quinta-feira, 9 de junho de 2016

Crise faz Hospital Darcy Vargas restringir atendimento no Pronto Socorro

Flávio Azevedo

O Hospital Regional Darcy Vargas de Rio Bonito
O Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) restringiu, desde o último dia 1º de junho, o atendimento no Pronto Socorro da unidade. Até os curativos foram suspensos no setor de emergência. Também ficou definido que os pacientes serão atendidos conforme classificação de risco. Vermelho, “atendimento imediato”; Amarelo, “urgente”; Verde, “pouco urgente”; Azul, “não urgente”. Os pacientes classificados pela cor “Azul” serão encaminhados ao atendimento ambulatorial. As mudanças foram anunciadas através do Ofício 204/2016 que a direção do HRDV destinou a Câmara de Vereadores de Rio Bonito. O documento foi lido em plenário na sessão Legislativa dessa terça-feira (07/06).

Segundo o Ofício, a crise econômica que atinge o país está sendo sentida pelo HRDV que não tem recebido vários repasses e também pelo aumento da demanda de pacientes que chegam ao Pronto Socorro, onde o volume de pacientes de municípios vizinhos, principalmente de Itaboraí, aumentou de maneira significativa. Se anteriormente existia uma nítida tentativa de esconder as pendências do governo do Estado com a unidade, hoje, a direção do hospital assume que existe o débito e pelo montante apresentado eles são antigos.

Segundo o ofício que a direção do HRDV endereçou a Câmara de Vereadores, a direção da unidade decidiu fazer uma readequação no atendimento do Pronto Socorro, tendo em vista a crise financeira e a defasagem da tabela praticada pelo Serviço Único de Saúde (SUS). O Ofício também revela que o governo do Estado suspendeu o Programa de Apoio aos Hospitais do Interior (PAHI), causando uma redução orçamentaria anual da ordem de R$ 1,8 milhão. Ainda segundo o Ofício, os pagamentos referentes aos serviços de Oncologia não são efetuados desde dezembro de 2015, “somando um débito de R$ 733 mil”. O custeio do Pronto Socorro, recurso que deve sair dos cofres municipais, segundo o Ofício está defasado em cerca de R$ 200mil/mês, o que representa prejuízo de R$ R$ 2,4 milhões anuais.

Vereador Dilon de Boa Esperança é observado pelo
presidente Reis durante a leitura do Ofício do HRDV.
A direção do HRDV também comunica que a demanda de pacientes provenientes do município de Itaboraí aumentou muito na Emergência, situação que está causando desequilíbrio técnico e financeiro ao hospital. Outro ponto apresentado pelo ofício é relacionado ao setor de Obstetrícia, onde a dívida era da ordem de R$ 345 mil até o último mês de abril. O Ofício revela que o aumento da demanda de pacientes na Emergência também superlota a Obstetrícia, gerando desequilíbrio nas contas do HRDV.
– A Obstetrícia está sobrecarregada pela demanda crescente de gestantes vindas de outros municípios, algumas sem pré-natal, o que eleva a necessidade da realização de partos de alto risco, sem que a nossa instituição tenha condições de atender recém-nascidos, pela falta de estrutura neonatal – informa o comando do HRDV.

O Ofício acrescenta que o aumento de demanda excede a capacidade de atendimento estrutural físico e de recursos humanos do HRDV e alerta para o fato de que a unidade não tem condições de realizar a adequação dessas estruturas, uma vez que as receitas provenientes do sistema público estão sofrendo drástica redução.

Repercussão

Aissar Elias
O vereador Aissar Elias frisou que diante da crise que atinge o HRDV, a Prefeitura precisa atender as Emendas Impositivas que foram feitas pelos vereadores ao Orçamento. “Só eu fiz indicação de R$ 300 mil para o HRDV, porque é uma necessidade emergente". Funcionário do hospital há muitos anos, o parlamentar confirma a sobrecarga da unidade. “O pessoal de Itaboraí está todo vindo para Rio Bonito”.
– Agente lamenta o que está acontecendo em Itaboraí, mas a nossa atribuição é defender os interesses do riobonitense, que está sendo prejudicado. Eu peço que prefeita mande uma mensagem liberando as Emendas Impositivas do HRDV, para que a direção da unidade possa pelo menos comprar materiais básicos, que tem faltado na unidade – destaca o vereador, acrescentando que “a UPA também está sobrecarregada por pacientes de outros municípios e isso precisa ser analisado”.

Marlene Carvalho
A vereadora Marlene Carvalho (PPS) também está preocupada e confirma a falta de material no HRDV. Ela também discorre sobre as Emendas Impositivas e sugeriu que os vereadores conversem com a prefeita, “porque nesse momento nós precisamos nos concentrar no hospital”. 
– Hoje, eu soube que não tinha luva no hospital. Falta soro, medicamentos básicos, na Emergência as faltas são muitas, mas a minha preocupação é com o CTI, onde os pacientes são graves, as medicações são caras e essa Casa precisa se posicionar sobre o que pode ser feito pelo HRDV. Eu também fiz Emenda Impositiva, mas o processo está parado no Gabinete da Prefeitura e segundo informações colhidas a prefeita não vai pagar – conclui.

Cenário

A Saúde em Rio Bonito é sempre um assunto espinhoso, porque as decisões são tomadas com o pensamento nos votos e compromissos políticos. Ao assumir a Prefeitura, em janeiro de 2013, a prefeita Solange Almeida aumentou o aporte financeiro do município no HRDV em cerca de R$ 5 milhões/ano. Há cerca de um ano, o custeio da UPA, que era feito de forma tripartite (governo federal, estadual e municipal), está sendo feito unicamente pela Prefeitura, cerca de R$ 1 milhão mensais. 

O que se percebe, porém, é que as duas principais unidades de Saúde do município (HRDV e UPA) estão funcionando a “meia boca”. As técnicas de gestão apontam na direção de que a decisão mais correta é fechar a UPA (outros municípios estão fazendo isso) e direcionar o recurso destinado a UPA no HRDV. Todavia, essa decisão representa perder cerca de 200 empregados sobre os quais a Prefeitura exerce influência política direta. Fazer investimento no HRDV, que não tem gestão municipal, ainda é entendido por muitos setores como “construir piscina e churrasqueira no quintal dos outros”. Enquanto essas questões não se resolvem, a Saúde do município segue capenga.

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