sábado, 16 de janeiro de 2016

Padre Eduardo Braga nos convida a não “coxear entre dois pensamentos”

Flávio Azevedo
Pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito.
Questionado, querido, dono de opiniões que nem sempre agradam, mas um homem preocupado com a sociedade e comprometido com sua missão. Esse é o padre Eduardo Braga, pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito, que sensibilizado com os tristes acontecimentos ocorridos na cidade essa semana, divulgou nota convidando os riobonitenses a orar e buscar a Deus. Ele inicia o seu texto chamando as pessoas “amados filhos e filhas no Senhor” e usa a expressão “misericórdia”, sentimento de solidariedade em relação alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça.

O padre Eduardo diz que após ter tomado conhecimento das tragédias o seu coração de pastor sofre. “Somente a oração pode nos confortar, nos dar esperança e capacidade de interceder pelas famílias em luto neste momento”. Ele afirma que “não somos católicos em Rio Bonito por acidente; nem foi a troco de nada que recebemos o dom imerecido da Porta Santa. Precisamos orar, profetizar e amar ainda mais”.

Eu não sou católico, mas essa condição não me impede de perceber o objetivo do sacerdote. Entendo o convite como uma provocação a quem tem uma religião, palavra que deriva do latim “religare”, que aponta “religar o homem a Deus”. Nessa sexta-feira (15/01), às 22h30min, o padre Eduardo realizou uma missa pelas pessoas que morreram essa semana. A preocupação do líder religioso pode ser questionada, mas eu concordo que estejamos precisando caminhar mais decididamente a vereda do bem.

Analisando a proposta do padre e o nosso momento, eu me lembrei de um trecho da história de Elias, quando ele enfrenta os profetas de Baal. O texto está escrito no livro de I Reis, capitulo 18. No verso 21, nitidamente irritado com a incredulidade dos hebreus, Elias dispara: “até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o! Se Baal é Deus, segui-o!”. A narrativa termina dizendo que “o povo nada respondeu”.

E a cena de Elias se repete. Estamos diante de dois caminhos: Deus e Baal. Podemos obedecer ou desobedecer. Está diante de nós o bem e o mal. Está nítido, porém, que “coxeamos” entre as duas opções. A palavra “coxear” deriva de “coxo”, signicante para pessoa com limitação física, que manca. É como Elias classifica o povo hebreu. Eles mancavam, porque uma hora serviam a Deus e outra hora a Baal. O grande conflito entre o bem e o mal sempre esteve presente em qualquer período da história humana e a irregularidade do homem, que cada hora escolhe um para servir é flagrante.

A tragédia, por exemplo, dos operários que caíram do prédio nessa sexta-feira, é um “coxear entre dois pensamentos”. Todos sabem da necessidade dos dispositivos de segurança, mas preferem não usar. O empregador sabe da resistência dos operários, mas prefere não exigir. A fiscalização desse dilema, mas prefere não intervir. Todos nós conhecemos o bem e o mal, mas preferimos “coxear entre dois pensamentos” e essa indecisão pode ser fatal.

O clamor, “até quando coxeareis entre dois pensamentos”, não é apenas para a vida religiosa. Ele é próprio para a vida profissional, familiar, conjugal, pessoal, relacional e política. Desgraças, tragédias, perdas, sofrimentos e tristezas seguirão acontecendo enquanto “coxearmos entre dois pensamentos”.

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