quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Serpente encontrada no Centro de Rio Bonito aponta para alguns desequilíbrios

Flávio Azevedo 
A cobra foi fotografada por curiosos próximo ao Cartório, na Praça Fonseca Portela.
Por volta das 11h dessa terça-feira (20/01), uma visitante pouco comum deixou em polvorosa o Centro de Rio Bonito. Uma serpente da espécie Corallus Hortulanus, popularmente conhecida como “cobra veadeira ou suaçubóia”, atraiu dezena de curiosos. Prima da Jiboia (familiar mais conhecida), ela foi encontrada na Rua Dr. Marinho (Rua do Papaola). Assustada com a aglomeração de pessoas, o réptil fugiu até a Praça Fonseca Portela. Na Rua Monsenhor Antônio de Souza Gens (Rua da Prefeitura), ela se abrigou em um carro. O volume de curiosos aumentou. A Guarda Municipal, a Polícia Militar e até o Corpo de Bombeiros, foram chamados.

A captura da serpente, um macho que media 1m36cm, foi feita por uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, composta pelo veterinário, Felipe Thomé Schettini; e pelo biólogo, Leonardo Luiz de Almeida Ferreira. O veterinário explicou que esta espécie de cobra não é de interesse medico, pois não produz peçonha (não é venenosa).
– São serpentes arborícolas. Ou seja, vivem nas copas das arvores, se alimentando de aves, pequenos lagartos e eventualmente roedores, quando vão ao solo. Nessa época quente do ano, os repteis realmente ficam mais ativos, podendo ser avistados com facilidade – explica Schettini, que é especialista em animais silvestres e exóticos.

Todas as vezes que um animal silvestre é capturado existe um protocolo a ser seguido. “Nós realizamos alguns testes e diagnósticos, são coletadas amostras de sangue, fazemos a biometria do animal, etc.”. O veterinário explicou que no caso dessa serpente, foram encontrados alguns “hemoparasitas” na análise do sangue, sendo necessário que ela receba tratamento medicamentoso. “O exame de sangue será repetido, para ver se ela melhorou e posteriormente encaminhamos para soltura, num local que não divulgamos para não atrair a atenção dos traficantes de animais silvestres”.

Atrações para a serpente 
O veterinário Felipe Schettini mostra a serpente capturada em uma das suas fotos no Facebook
Para a nossa reportagem, o veterinário explicou que “devido ao desmatamento ativo e queimadas que ocorrem em nosso município, essas aparições estão ficando cada vez mais frequentes”. Ele destaca ainda, que o aumento da produção de lixo promove o crescimento dos roedores (rato), que personagem principal na cadeia alimentar  das serpentes. “Quanto a existir serpentes na pracinha, acredito que seja muito difícil, pois elas têm medo do homem, e a pracinha é um local que tem sempre muita gente, o que acaba não dando espaço pra elas”, explicou Schettini, assegurando que “não existe “invasão das cobras”, nós é que invadimos o espaço delas”.

O veterinário recomenda atenção das pessoas, “porque com certeza podemos ter encontros com as serpentes em nossas residências, carros etc.”. Ele alerta que quando alguém se depara com uma situação dessas, não se deve matar a cobra, pois todos os animais silvestres, incluindo as serpentes, pertencem a União e tirar a vida desses animais é crime.
– A pessoa que mata um desses animais pode ser autuada por crime ambiental. O que deve ser feito é ligar para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (2734 0192), onde eu, como medico veterinário; e o biólogo, Leonardo Ferreira; realizamos o trabalho de resgate e soltura desses animais em áreas preservadas e longe dos perigos da civilização, protegendo as pessoas e os próprios animais – orienta Schettini, frisando que “não existe uma formula para que as serpentes não apareçam em nossas residências ou local de trabalho. Podemos sim, não deixar lixo e entulhos acumulados para evitar a proliferação de roedores”.

A cobra capturada em tratamento.
Finalizando as suas colocações sobre o assunto, o veterinário afirma que “devemos olhar para as serpentes com outros olhos, pois cada ser vivo tem o seu papel no meio ambiente, no caso delas, realizam controle de pragas urbanas como os roedores”.
– Devemos perder esse costume que vem de tempos antigos, de que quando se encontra uma cobra tem que matar. Além de ser crime ambiental, promove um desequilíbrio ecológico enorme. Uma curiosidade, somente para enaltecer o valor das serpentes: o captopril, remédio muito popular para controle da pressão arterial, é derivado da peçonha das jararacas – finaliza.

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