terça-feira, 1 de abril de 2014

Índices de violência crescem em Rio Bonito

Paula Brito

Apesar da aparência de tranquilidade, Rio Bonito tem se
destacado pelo aumento da violência. 
Ela está no Mapa da Violência, nos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) e na percepção da população. A insegurança se tornou, nos últimos anos, parte da rotina do município de Rio Bonito, que abriga 56 mil pessoas, de acordo com informações do IBGE. Segundo dados do ISP, de janeiro de 2010 a outubro de 2013, houve aumento de 50% nas ocorrências da 119ª DP – única delegacia da cidade. O Mapa da Violência, por sua vez, mostrou que o número de homicídios na cidade aumentou de dois, em 2009, para 10 em 2011. Moradores atribuem a tendência, em grande parte, à suposta fuga de criminosos da capital fluminense, por conta da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), assim como à construção do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí.
  
A cidade, que há poucos anos não conhecia a rotina da apreensão e do medo, agora convive com a migração da violência da Capital. Sair de noite, em alguns bairros, tem se tornado muito perigoso. Rio Bonito, que há quatro anos possuía um nível muito baixo de prisões, hoje contabiliza mais que o triplo. Em janeiro de 2010, quatro prisões. Já em outubro de 2013, foram registradas 15. A sensação de insegurança também tem feito com que estabelecimentos comerciais fechem cada vez mais cedo e que moradores evitem frequentar alguns bairros durante a noite.
– Nunca convivi com essa realidade e temo pelos meus três filhos. Sempre tivemos uma vida simples aqui no bairro, as crianças saíam à noite para brincar, mas de alguns anos pra cá, isso está se tornando cada vez mais difícil – contou a moradora Maria da Conceição, de 47 anos.

De acordo com o estudo “Mapa da Violência”, do Instituto Sangari, os pólos de violência têm se deslocado das capitais para o interior dos estados por conta da estagnação econômica e do maior investimento em segurança nos grandes centros. Até o ano 2000, os municípios que registraram maior crescimento nos índices eram os que superavam os 100 mil habitantes. Na última década, no entanto, o crescimento dos homicídios centrou-se nos municípios de menor tamanho, principalmente na faixa de 20 a 50 mil habitantes. Segundo a pesquisa, se esta tendência continuar, as taxas de homicídio no interior vão ultrapassar as das capitais em menos de uma década.

Novo cenário social no município

A migração para Rio Bonito pode não ter como único motivo a fuga das UPPs. Para uma jornalista local, que preferiu não se identificar, parte do aumento da criminalidade pode ser atribuído à migração de pessoas atraídas por empregos no Comperj – talvez o maior empreendimento da Petrobrás no país, com área de 45km² e previsão de inauguração em 2016. “A cidade começou a crescer criminalmente por causa da proximidade com Itaboraí e São Gonçalo. Quando comecei a cobrir polícia, há 5 anos, os registros eram 90% provenientes do tráfico de drogas. Hoje temos outros tipos de crime, boa parte disso devido à população que veio morar na cidade graças ao Comperj. Não havia assalto em casa, por exemplo, agora tem. Outro problema é o de que a Secretaria de Segurança do Estado, trabalha com números. Então as pessoas precisam denunciar. Até a quantidade de Policiais Civis e o número de computadores do plantão da Delegacia é diferente, porque aqui temos poucos registros”, opina a jornalista. Entre 2000 e 2010, a população de Rio Bonito aumentou em 11% – e o número pode ser maior, já que a data de inauguração do Comperj se aproxima.

Para o também jornalista, Flávio Azevedo, existe uma série de fatores que contribuíram para o aumento da violência, não só em Rio Bonito, mas em todas as cidades interioranas.
– O crescimento da cidade; pais que não sabem dar limites aos filhos; o êxodo rural; a paternidade e a maternidade que chegam cada vez mais cedo; o ganho fácil que o tráfico oferece; a independência que a tecnologia proporciona, tudo isso colabora. Na Serra do Sambê, por exemplo, bairro onde eu nasci e me criei, os clientes do ponto de drogas não são os meninos da localidade, mas gente de poder aquisitivo que mora nos bairros nobres do município. Todas essas nuances mostram que o cenário de violência é sustentado por uma política de segurança estadual equivocada e por uma sociedade omissa, que em todo tempo foge das suas responsabilidades ou as transfere para outros atores sociais – afirmou. 

Enquanto isso, moradores tentam se adaptar a uma nova Rio Bonito. "Depois que o empresário Américo Branco foi morto no ‘coração financeiro’ da cidade, as pessoas perceberam que a cidade não é mais a mesma. Desde então, as elas acham que a solução é ter um PM em cada esquina, quando na realidade precisam mudar os hábitos, porque a cidade não é mais aquela em que os jovens iam da Sete de Maio para a pracinha às 2h da manhã e tudo bem. O mundo mudou, e Rio Bonito está dentro disso", comentou a professora Sandra Mara, que mora no município há 38 anos.

A Coordenadoria de Inteligência da PM informou que tem acompanhado a movimentação de criminosos e que, em alguns casos, a participação da população é necessária. Para os policiais da 3ªCIA do 35ºBPM, é importante que os moradores façam as denúncias. "Nós estamos vendo uma migração de criminosos para a nossa localidade. Principalmente depois da ocupação da Reta (Itaboraí), fizemos apreensões de pessoas que não são do município. Mas é muito importante que a população colabore para que os crimes não fiquem impunes e para que possamos andar tranquilos pela cidade", destacou um policial, e morador do município.

Nenhum comentário:

Postar um comentário