sábado, 29 de março de 2014

Jornalista é assassinado em frente casa em Miguel Pereira

Dono do semanário Panorama Regional, Pedro Miguel Palma, de 47 anos, chega em casa na noite do último dia 13, em Miguel Pereira, no Sul Fluminense. Na porta da residência, na Rua Dona Carola, distrito de Governador Portela, dois homens numa moto, ambos de capacete, se aproximam. O carona saca uma pistola e o executa com três disparos — dois na cabeça e um no peito. Palma foi o quarto jornalista assassinado a tiros em menos de quatro anos, entre o Sul e o Centro-Sul do estado.

O que assusta a categoria e revolta parentes e amigos das vítimas é a impunidade que impera sobre os casos. Até hoje, nenhum suspeito foi punido pelos crimes e apenas dois homens chegaram a ser presos, mas acabaram soltos posteriormente. Segundo investigações e testemunhas, os assassinatos teriam motivações políticas. Todos denunciavam, através dos seus veículos de comunicação, supostas irregularidades em prefeituras das duas regiões.

Com medo de represálias e ainda abalados, familiares evitam comentários sobre o assunto, mas, no dia do enterro do jornalista, a mulher dele, Patrícia Palma, confirmou, em entrevista na televisão, que o marido vinha sofrendo seguidas ameaças de morte. O delegado da 96ª DP (Miguel Pereira), Murilo Silva Montanha, afirmou que ainda não tem uma linha definida de investigação, mas não descarta motivação política. “O que jornalistas escrevem sempre agrada uns e desagrada outros”, comentou o delegado, garantindo que a hipótese de tentativa de assalto é a única que não é levada em consideração pela polícia.

Outras vítimas

José Rubens Pontes 

Dono do Entre-Rios Jornal, Rubinho, como era conhecido, foi assassinado na madrugada do dia 30 de outubro de 2010. Ele estava num bar no Centro de Paraíba do Sul, quando foi morto com um tiro na nuca. O ex-PM Renato Demétrio, 49, acusado de ser o autor do crime, e outro homem, chegaram a ser presos, mas soltos posteriormente. Na época, a polícia investigava a disputa de territórios pela contravenção como possível causa da morte.

Mário Randolfo Lopes

O jornalista e sua companheira, Maria Aparecida Guimarães, foram executados na madrugada do dia 9 de fevereiro de 2012. O casal foi rendido em casa e levado para a Estrada das Rosas, em Barra do Piraí, onde foi executado com tiros na cabeça. O possível envolvimento de um PM foi investigado, mas até hoje ninguém foi preso. Randolfo tinha vários desafetos na cidade e na vizinha Vassouras. Polêmico, ele comprou brigas até com PMs e juízes.

Valério Nascimento 

No dia 3 de maio de 2011, Valério Nascimento, 49, dono do jornal Panorama Geral, de Angra dos Reis, foi encontrado morto em casa no distrito de Lídice, em Rio Claro, com tiros de espingarda nas costas e cabeça. Ele participava ativamente de movimentos populares e fazia denúncias contra supostas irregularidades envolvendo políticos de Bananal/SP, na divisa com Rio Claro. Ninguém foi preso.

José Roberto Ornelas

Na noite de 11 de junho de 2013, José Roberto Ornelas de Lemos, de 45 anos, diretor do jornal "Hora H", que circula na Baixada Fluminense, foi assassinado numa padaria na cidade de Nova Iguaçu. A vítima foi atingida por 44 tiros. Três pessoas que estavam na padaria contaram à polícia que Lemos estava no balcão, de costas para a rua, quando um Gol prata, com quatro homens encapuzados, estacionou em frente ao estabelecimento. De dentro do veículo, os criminosos abriram fogo e fugiram logo em seguida. À época, a polícia divulgou que a principal linha de investigação era a de o que crime tenha sido motivado pela linha editorial da publicação.

Em nota, a Associação Nacional de Jornais, reafirmou que “a violência contra jornalistas é um retrocesso no processo democrático e grave ameaça à liberdade de expressão”. A Polícia Civil não deu detalhes sobre as investigações, limitando-se a informar, por nota, que os inquéritos, com exceção ao da morte de Pedro Palma, já foram encaminhados ao Ministério Público.

Crimes comuns, prisões raras 

Crimes de pistolagem, como os casos apresentados, são comuns em todo Brasil. Famílias abastadas e violentas, maus policiais, políticos corruptos e contraventores, que disputam pontos de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis, sempre aparecem como mandantes desses tipos de crimes. Porém, raramente, alguém é preso.

Em Vassouras, denúncias apontaram, supostamente, a participação de integrante da família Avelino (suspeita de envolvimento em cerca de 50 assassinatos na região desde a década de 60), na morte do jornalista Mario Randolfo. “Não se chegou a nenhuma confirmação sobre essa acusação. Randolfo era polêmico, a ponto de ter arranjado desafetos até com PMs e juízes”, lembra o delegado José Omena, que conduziu o início das investigações.

Antes de se mudar para Barra do Piraí, Randolfo tinha sobrevivido a cinco tiros em Vassouras. O jornalista também questionava desvios de verbas públicas em prefeituras. As mortes engrossam a macabra estatística que coloca o Brasil em primeiro lugar em número de jornalistas assassinados nas Américas, ultrapassando o México, uma das nações mais hostis para o exercício da profissão.

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