sábado, 3 de novembro de 2012

“Victor Hugo”, nome determinante para “Faroeste Caboclo” e “Os Miseráveis”

Flávio Azevedo

Na foto de Marllon Lopes, o ator Victor Hugo, uma das grandes estrelas do Lona na Lua, é figura imprescindível ao elenco de "Faroeste Caboclo".
O espetáculo “Faroeste Caboclo” apresentado nas últimas semanas no Espaço Cultural Lona na Lua, em Rio Bonito, nos permite fazer um link com “Os Miseráveis”, uma das principais obras da literatura mundial. O principal motivo para esse link está em um nome apenas: Victor Hugo. Se na literatura, o francês Victor Hugo é o nome do autor dessa célebre história; em Rio Bonito, o texto de Zeca Novais, baseado na composição musical de Renato Russo, conta com a interpretação do premiado ator riobonitense Victor Hugo.

“Os Miseráveis” foi publicado em 3 de abril de 1862 simultaneamente em Leipzig (Alemanha), Bruxelas (Belgica), Budapeste (Hungria), Milão (Itália), Roterdã (Holanda), Varsóvia (Polônia), Rio de Janeiro (Brasil) e Paris (França). O Victor Hugo francês nos impressiona também com obras como “Os Trabalhadores do Mar” e “O Corcunda de Notre-Dame”. Uma das vertentes do artista francês é comuniacar o trágico, o grotesco e a desigualdade.  

Já o Victor Hugo de Rio Bonito vem nos impressionando com personagens do porte de Fundilhos (Sonho de Uma Noite de Verão), Srestão (D. Quixote), Vadinho (Dona Flor e Seus Dois Mardiso), Dirceu Borboleta (O Bem Amado), Romeu (Romeu e Julieta no Sertão), Sabino (Quem Casa Quer Casa), João Grilo (O Auto da Compadecida) e Jeremias, a cereja do bolo de “Faroese Caboclo”. O detalhe é que boa parte dessas personagens estão ligadas a estórias onde o trágico, o grotesco e a desigualdade estão inseridas. Nitidamente, as personagens de Victor Hugo dão brilho direta ou indiretamente a essas questões sociais.

O enredo de “Os Miseráveis” se passa na França do século XIX entre duas históricas guerras: “A Batalha de Waterloo” (1815) e “Os Motins de Junho” (1832). Personagens como Jean Valjean (preso durante 19 anos por roubar um pedaço de pão), Fantine, Cosette, Marius, Javert (policial corrupto), Thénardier, Éponine, Gavroche e Enjolras testemunham a pobreza miserável daquele tempo. A crítica, segundo os historiadores, é dirigida a Napoleão Bonaparte, que no entendimento de Victor Hugo teria traído os ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

“Faroeste Caboclo”, porém, é uma história brasileira. O cenário é brasileiro, as razões para cada enredo são bem brasileiras e os desfechos também. Embora a alegoria seja ambientada nos anos 70 ou 80, ela continua, assim como “Os Miseráveis”, super atual. João de Santo Cristo, Pablo, Jeremias e Maria Lúcia completam a história de “Faroeste Caboclo”, enredo que também pretende retratar a miséria daqueles que diariamente morrem de inanição por conta do cinismo e da apatia de uma sociedade que está atolada no lamaçal do seu egocentrismo.

Cena do filme "Os Miseráveis" que conta com brilhante participação do ator francês, Gérard Depardieu.
A literatura impecável do escritor francês e mais uma atuação acima da média do ator riobonitense revela que, seja no passado ou no presente, o nome Victor Hugo deve ser reverenciado e sempre despertará admirações. Na biblioteca, no cinema ou no palco, o legado desses dois ‘Victors Hugos’ promove polêmica, frustrações, reflexões e deveria contribuir para mudar paradigmas. Vale lembrar que a injustiça social sempre foi o grande tema do Victor Hugo francês, o que não é diferente com as personagens interpretados pelo homônimo riobonitense.

No Brasil, embora não oficalizada, a pena de morte é praticada diariamente pelas forças que deveriam promover segurança. As vítimas preferidas são os moradores de rua, adolescentes pobres e negros (todos eles uma espécie de João de Santo Cristo). Já os traficantes (Pablo e Jeremias), também vítimas de uma sistema, esses simplesmente terminam de fazer o trabalho que o governo começa, mas não tem coragem de concluir, pelos menos publicamente. E Maria Lúcia? Essa é outra vítima da família, da pedofilia e da falta de esperança no futuro. Por isso, Maria Lúcia “nunca amou ninguém”.

Enfim, talvez seja por isso que acertadamente o espetáculo que está em cartaz no Lona na Lua termine com os personagens mortos e sepultados por uma bandeira brasileira, que também poderia ser a bandeira do Estado do Rio de Janeiro ou do município de Rio Bonito, cidade considerada por quem conhece a região, o paraíso dos drogados, dos aliciadores e dos traficantes. A leitura é que a falta de opções de lazer, diversão, emprego, turismo, entre outras coisas (culpa da incompetência dos governos que passaram por aqui nos últimos 50 anos), contribui para que “Os Miseráveis” e “Faroete Caboclo” sejam histórias enxergadas a cada esquina.

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