segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Maridos inconformados confirmam que a sociedade está doente

Flávio Azevedo

Preso pela polícia, o atirador disse ter perdido a cabeça.
O Fantástico desse domingo (25/11) trouxe uma triste reportagem. Aliás, esse é mais um episódio que tem sido rotina no noticiário: inconformado com a separação e tomado de ciúmes, ex-marido (Rodrigo Moreira) tenta matar a ex-esposa (Fernanda Moreira). O fato ocorreu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. As câmeras da Santa Casa de Misericórdia flagram os cinco tiros que Rodrigo dispara contra a ex-esposa depois de persegui-la. As imagens ainda mostram a mãe de Fernanda, que corre para impedir o pior.

Dois tiros acertaram Fernanda. Um atingiu a cabeça, o outro acertou uma das mãos. “Ela está consciente, não tem sequelas visíveis no momento e eu espero que esse quadro continue andando bem”, diz o neurologista Carlos Alberto Vieira, médico da vítima. Preso pela polícia, o atirador desceu do carro da brigada militar dizendo não saber o que estava fazendo. O motivo do crime, segundo a família, teria sido ciúme. De acordo com a reportagem, em conversas informais ele confessou que o crime foi passional. Ele não aceitava o fim do casamento e suspeitava da mulher (traição).

A vítima se recupera bem, está consciente e não corre risco de morte. Mas afinal de contas, o que se passa na cabeça desses homens? Recentemente numa reunião do Conselho Comunitário de Segurança (CCS) de Rio Bonito/RJ, o delegado titular da Delegacia da cidade falou sobre o alto volume de crimes classificados como Lei Maria da Penha.
– Eu não sei o que está acontecendo com os homens aqui de Rio Bonito... Não sei se é a água, mas as ocorrências de crimes dessa natureza estão em número muito elevado. Algo precisa ser feito para melhorar esses índices. Isso sem falar nas mulheres que são agredidas, mas por conta dos filhos e da dependência do esposo acabam não registrando a ocorrência. E continuam apanhando – alertou o delegado acrescentando que recentemente prendeu um sujeito que batia na esposa e diante do delegado confirmou que vai matar a mulher. “A prisão não fez esse marido refletir. Mesmo estando preso, ele garantiu que quando sair da cadeia vai matar a mulher".

Especialistas apresentam como desculpa para esse hábito terrível, alterações provocadas por bebida alcoólica, drogas ilícitas, estresse, entre outros fatores. Infelizmente as pessoas que debatem esses assuntos são frouxas, falam de boca pura e não têm coragem de por o dedo na ferida. A verdade é que o Brasil ainda é um país extremamente machista (inclusive, as mulheres); a criação tradicional diz que a agressão é normal e prega como regra social o domínio do homem sobre a mulher.

Contribui para isso o ensino rígido, retrógado e ultrapassado das escolas, geralmente dominadas por pessoas anacrônicas e “fora do prazo de validade”. Na mesma direção estão às igrejas, instituições que pregam o amor, mas esquecem de permitir que o referido sentimento entre em seus corações. Se os líderes religiosos e políticos da sociedade civil organizada não conseguem exercer liderança para mudar esse doentio cenário – muito por conta de estarem com o rabo preso – o povo acaba assimilando a postura dos seus líderes.

Concluindo o assunto convém falar do sentimento de propriedade que fascina homens e mulheres. O sujeito, metido a mais macho que os outros, prova a sua masculinidade se dizendo o dono da esposa. Por outro lado, ela pensa que ele é seu empregado e, por isso, ele tem, inclusive, que fazer tudo o que ela mandar (sem direito a erros). Resumindo, para qualquer relacionamento, a falta de amor e respeito é a raiz de toda espécie de males. Aliás, se estivermos falando da tão comentada vida a dois, experiência que requer renúncia, entrega e dedicação, a ausência desses valores (amor e respeito) resulta em noticiários dessa natureza.

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