domingo, 11 de novembro de 2012

Investigações do assassinato de Américo expõem suposta rede de corrupção em Rio Bonito

Flávio Azevedo

O delegado Paulo Henrique da Silva Pinto nos estúdios da Rádio Sambê FM (98,7).
A investigação do assassinato do empresário Américo Branco pode ser a porta de entrada para o esclarecimento de uma série de crimes que, por conta de fatores comuns às cidades de menor porte (parentesco, compadrio ou sócios em ilegalidades), acabam sendo deixados de lado por uma série de situações. Em entrevista ao programa Flávio Azevedo, da Rádio Sambê FM (98.7), da última sexta-feira (09/11), o delegado titular da 119ª DP (Rio Bonito), Paulo Henrique da Silva Pinto, disse que também está apurando os crimes de falsificação ideológica, falsificação de documento público, estelionato e formação de quadrilha.

Acostumado a chefiar delegacias especializadas e investigar crimes de grande repercussão, o delegado afirmou que cerca de 20 a 30 pessoas, entre autoridades, empresários e comerciantes serão ouvidos. “E não tenha dúvidas... Eu vou prender tantos quantos forem identificados e estiverem envolvidos nessa grande roubalheira que acontece há anos em Rio Bonito”. Na entrevista, ele afirmou ter encontrado reconhecimentos de firma fraudulentos, disse que as fraudes foram feitas em cartório e revelou que o proprietário do cartório já foi identificado e também será ouvido.
– Nós começaremos a responder a sociedade riobonitense, porque tem tanto carro caro e tanta gente rica em Rio Bonito... Mas sem ter condições. Gente que fica rica de um dia para o outro. Essas pessoas serão ouvidas e aqueles que não souberem dar explicações serão indiciados. Não adianta alegar inocência, porque quem cai num golpe, logo procura a Polícia. Mas se a pessoa não comunicou, alguma coisa há! Não comunicou porque sabia que praticou um crime ou por que estava se sentindo ameaçado? – questiona.

Primeiro passo

Na reunião do Conselho Comunitário de Segurança do mês de outubro o delegado prometeu que o mandante do assassinato do empresário Américo seria preso nos próximos dias. 
A investigação, deflagrada para identificar os atiradores e o mandante do assassinato do empresário Carlos Américo de Azevedo Branco, crime que aconteceu no dia 23 de maio de 2011, no interior do shopping Comercial Center, no Centro de Rio Bonito, segundo o delegado, acabou trazendo a tona outras questões. “Estamos falando de estelionato (firmas fantasmas com pessoas reais e endereços fictícios), falsificação ideológica (oferecer dados falsos), falsificação de documento público (reconhecimentos de firma fraudulentos) e formação de quadrilha”.

Depois de prender o comerciante Fabiano Amorim da Mota no dia 01/11/2012 sob acusação de ser o mandante do assassinato de Américo e estar envolvido nos demais crimes investigados, o delegado se concentra na identificação dos atiradores e na rede de corrupção que serve como pano de fundo para o envolvimento de Américo e Fabiano. Os negócios e transações da dupla trazem a tona uma rede de corrupção com contornos hollywoodianos. Sobre o assassinato de Américo, o delegado diz não ter dúvida de que Fabiano é o mandante do crime. 
– O inquérito é sigiloso, nem tudo eu posso falar, mas adianto que a Justiça e o Ministério Público concordam com a nossa linha de investigação e entendeu como cabíveis os motivos que eu aleguei para a decretação da prisão de Fabiano Amorim da Mota. Ele é mandante do homicídio qualificado mediante paga ou recompensa. Nós estamos falando de 12 a 30 anos de cadeia. Se havia indícios quando foi decretada a prisão (de Fabiano), agora, uma semana depois, nós temos certeza e provas cabais de que ele mandou matar, porque mandou e quanto pagou aos pistoleiros – explicou o delegado, acrescentando não ter dúvida de que está preso o mandante do crime e o motivo foi obtenção de lucro (R$ 150 mil que a vítima teria emprestado ao mandante).

Golpes

De acordo com o delegado Paulo Henrique, o comerciante Fabiano Amorim, “conhecido estelionatário da cidade, costumava fazer uso da boa fé de alguns e do olho grande de outros para abrir firmas fantasmas ou laranjas”. Baseado em suas investigações ele está convencido que o comerciante criava empresas no nome de terceiros e colocava endereços falsos nos contratos sociais para impedir o rastreio das tais pessoas.
– Criada a empresa, ele saía fazendo compras, abrindo contas, pedindo empréstimos em banco e quando o negócio estourava, as dívidas eram atribuídas às laranjas, que eram moradores de Rio Bonito. Alguns não foram localizados, outros foram. Alguns acumulam débitos de R$ 1 milhão, outros de R$ 150 mil. Alguns realmente caíram num golpe (emprestaram o nome por boa fé); outros viram uma possibilidade de se dar bem, porque ele prometia vantagens (carros, motos, dinheiro, cartões de crédito com altos limites etc.). Já temos oito laranjas e temos notícias de muito mais – conta o delegado, prometendo indiciar e prender “aqueles que tiveram olho grande”.

“Vai muita gente presa”

O delegado diz que a rede de corrupção é grande e promete "prender todos os envolvidos" nos crimes periféricos ao assassinato do empresário Américo Branco.
Diante do volume de pessoas envolvidas nos crimes periféricos ao assassinato de Américo, o mandante passa a ser um arquivo vivo por ser detentor de informações preciosas para que a polícia consiga desvendar as fraudes. Questionado sobre os riscos que ele (Fabiano) pode correr por conta do que sabe, o delegado descarta essa possibilidade e diz que “o criminoso mais perigoso desse inquérito é o próprio Fabiano”. Ele disse também que os defensores do acusado, gente que está discordando da prisão de Fabiano, serão olhados com atenção pela polícia.
– Acho estranho que alguém defenda Fabiano. Posso pensar, inclusive, que esse alguém está envolvido nos crimes que ele cometeu. Quem está defendendo interesses tem... E cuidado, você pode estar defendendo um criminoso! Pode ser que nesse inquérito surjam surpresas para a sociedade de Rio Bonito ou não. Do mesmo jeito que todo mundo sabia que Fabiano era mandante do crime de Américo e ninguém falava nada, quando nós começarmos prender os quadrilheiros que com ele se amasiaram para a prática nociva do estelionato, as pessoas digam que já esperavam as tais prisões... Vai muita gente presa – disparou o delegado.

Durante a entrevista o delegado novamente apelou para que a população procure a Delegacia para prestar esclarecimentos sobre o acusado. “Cada dia aparece uma pessoa nova aqui contando mais um golpe que sofreu de Fabiano. As pessoas que cederam os nomes, mesmo dando endereço falso, nós estamos identificando. É um inquérito que vai ter muita gente ouvida. Algumas como testemunhas, outras como vítimas, algumas como envolvidas e alguns como criminosos”, concluiu.

Opinião

A verdade é que a investigação do delegado não trás novidades. Embora a sociedade riobonitense seja dominada pelo falso moralismo e por tanto puritanismo, tudo isso é coisa defendida da boca para fora. Não ficaremos assustados se forem presas 30, 40, 50 pessoas por estarem envolvidas nos crimes periféricos ao assassinato de Américo. A prisão de Fabiano Amorim e as investigações dos crimes periféricos trarão a tona o lado negro da sociedade riobonitense. Estamos falando de fatos que nós conhecemos há muitos anos, mas por frouxidão, covardia ou conivência não temos coragem de reconhecer a sua existência. 

Se o delegado prender metade desses irresponsáveis, por sacanagens que ouvimos falar há muitos anos, mas ninguém toma providências, ele merece ganhar uma estátua de bronze. O curioso é que o delegado disse que os envolvidos são “autoridades, empresários e comerciantes”. Ele não mencionou pessoas de localidades como “Rato Molhado”, “70”, “30”, “Paulino Siqueira” etc. Se o delegado conseguir realizar essa proeza, iniciativa nunca vista na história de Rio Bonito, ele realmente merece toda e qualquer homenagem!

6 comentários:

  1. Pelo que me lembro, após o assassinato do Carlos Américo Branco, houve uma manifestação contra as saidinhas de banco.
    Houve uma eleição pautada em solucionar ou buscar solução para este problema: falta de policiamento e evitar as saidinhas de banco.
    Pelo que vejo, estamos mais desinformados do que cego em tiroteio!

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    1. Como nós sempre soubemos Júlio, o delegado está prestes a provar que Rio Bonito não é exatamente o convento das 'irmãs carmelitas' como pretende alguns.

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    2. Rio Bonito, merece uma investigação a nível federal e não estadual. Aí sim!

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  2. Concordo Com Júlio Albernaz, participamos de passeatas, e tudo mais...

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  3. Caros amigos:
    Estive a meditar na matéria... Se na íntegra e nas intenções, creio que até eu sou suspeito! Sabe como? Vejam bem, eu não conheço o possível réu Fabiano Amorim, mas tenho 18 amigos de meu relacionamento no face que o conhecem, logo, estes 18 já são passíveis de ligação, igual ao caso do camarada que conhecendo um traficante, acabou por indiciado, como se os policiais fossem de todo puros, em só conhecer gente de honra ilibada! Então, voltando ao nosso caso, percebi que há 137 amigos no face do cidadão. Então passo a crer que o número de colaterais são maiores ainda!!! Considerando as fotos disponíveis, então a coisa fica mais séria ainda! Vou parar de meditar... senão vamos parar na ditadura!

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  4. Bom, diante do fato acontecido em Rio Bonito/Rj, gostaria de postar um comentário pautado em realidade surreal,rsrsr. Ao viver em uma cidade sem faculdade, sem indústrias de ponta, com funcionários públicos muito mal remunerados, comércios fracos,....Vimos MANSÕES, carros IMPORTADOS,.....nos faz pensar,...afinal de contas não somos idiotas, a ponto de não entender de forma notória que todo esse CAPITAL (MANSÕES, CARROS IMPORTADOS,...),vem de algum lugar. Será que algum ganhador da mega sena mora em RB, algum banqueiro mora em RB, um herdeiro do scarpa,....Olha, RB merecia uma investigação FEDERAL, a ponto de se avaliar e prender com mais precisão talvez,..essas quadrilhas. Não que a polícia civil deste estado não possa resolver,..Mas, o bco de dados e infiltrações da polícia federal brasileira,talvez encacharia bem em RB.

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