quarta-feira, 25 de julho de 2012

“Prejuízos do Hospital Darcy Vargas ocorrem por culpa da Prefeitura”

Flávio Azevedo

Contas que não fecham, repasses deficitários, subfinanciamento de serviços, desvalorização do Pronto Socorro (PS) em detrimento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), acordos firmados que não estão sendo cumpridos e contratos desrespeitados. Essas foram apenas algumas das reclamações feitas por parte da diretoria do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) em entrevista concedida a nossa reportagem na noite da última segunda-feira (23/07), depois de uma reunião que contou com a participação de diretores e membros do Conselho Fiscal da instituição.
– A coisa está muito complicada e a principal razão dos problemas que nós estamos atravessando está na Secretaria Municipal de Saúde, na pessoa da sua secretária, que com a sua forma de agir está prejudicando o município, a população, sendo o HRDV uma das suas principais vítimas, pois ao contrário dos anos anteriores nós estamos com um déficit de R$ 300 mil mensais – disparou o presidente em exercício Luiz Fernando Romanelli Cardoso.

As constantes faltas de médicos, sobretudo nos fins de semana; o subfinanciamento do PS (setor de responsabilidade do município); a prestação de serviços como Oftalmologia e Oncologia, que deveriam dar maior retorno financeiro ao hospital; e o mascaramento da Programação Orçamentária Anual (POA), são outras reclamações da direção da unidade. “Alguns recursos que nós tínhamos eram conquistas alcançadas durante esses 10 anos que nós estamos administrando o HRDV. Mas com a gestão plena (o município ordena os gastos com a Saúde), tudo passa pela Secretária. Com isso, ela está repassando benefícios e prêmios, que foram conquistas nossas, como subsídio ou pagamento por serviços prestados”, denuncia Romanelli.

Quanto as reclamações sobre as constantes falta de médicos na emergência, a direção da unidade não foge a essa responsabilidade e concorda que o salário (R$ 3,9 mil líquidos) dos médicos está defasado, “precisam ser revistos, mas não há recursos para fazer esse reajuste”. Segundo o gerente Lupércio Lopes, “A UPA está pagando bem mais que isso”. Para ilustrar a questão ele apresenta números que falam por si só.
– A nossa emergência conta com clínico, pediatra, cirurgião, anestesista, obstetra e ortopedista (12h). Só essa folha de pagamento mais os encargos chegam a R$ 257 mil. Mas ainda têm os gastos com materiais, água, luz, telefone, medicamentos e os profissionais técnicos (enfermagem, recepção, vigilante e auxiliar de serviços gerais), que custam cerca de R$ 35 mil aos cofres do HRDV todo mês – argumenta Lupércio, que aponta um déficit de cerca de R$ 80 mil mensais somente na emergência, “porque a Prefeitura paga, por esse serviço, apenas R$ 208 mil.

Ainda segundo o gerente, a falta de médicos não deixa doente apenas o cidadão, “mas o HRDV também sofre em termos financeiros”. Segundo Lupércio, o Pronto Socorro é o motor que move os setores do hospital. “Nós precisamos alcançar, por mês, uma meta de 430 internações, mas como não temos médicos, não internamos ninguém, o que gera prejuízo. Até o pouco que era arrecadado com os convênios e pacientes de Planos de Saúde (cerca de R$ 10 mil) nós perdemos, porque como não tem médico, as pessoas não buscam a emergência”.

Para Romanelli, sempre mais enfático em suas colocações, era isso que a secretária de Saúde (Maria Juraci Dutra) queria que acontecesse para que a Prefeitura pudesse assumir a direção do HRDV. “Infelizmente, nós acreditamos nas suas promessas. Pensávamos ser ela uma parceira. Mas a verdade é que ela estava preparando um golpe, um ataque pelas nossas costas”, dispara Romanelli, que atribui os problemas de saúde que afastaram o presidente titular do HRDV, o advogado Luis Gustavo Martins, às atitudes “traiçoeiras” da secretária.

Dúvida Cruel

O Centro de Terapia Intensiva (CTI), que junto com a Unidade de Assistência de Alta Complexidade Oncológica (Unacon – Centro de Oncologia Rio Bonito), são serviços recentes oferecidos no HRDV também foi abordado durante a entrevista. A situação do CTI é grave, “porque todo mês fechamos as contas desse setor com prejuízo”. De acordo com os diretores da entidade, o CTI contém sete leitos, sendo cinco conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e dois para convênios e planos de Saúde.
– Por 130 internações, agora subiu para 140, nós recebíamos R$ 153 mil mensais. O volume de internações, porém, é superior a esse número. Aliás, todas as internações acima do que está contratado (130 internações), cerca de 20 por mês, nós não recebemos porque o teto contratado já está ultrapassado – lamenta Lupércio.

Diante desse cenário, os diretores do HRDV apontam para um impasse. “Se o teto de internações (130) já foi ultrapassado, o correto é não internar, mas é justo deixar uma pessoa morrer, porque essa meta já foi alcançada? É isso que nós queremos? Não é mais fácil e humano o poder público pagar essa diferença? E como fica o médico? Será que algum profissional, por conta de teto de internação, vai se recusar a receber um paciente?”, questionam os diretores do HRDV, alegando que constantemente esses assuntos são levados ao município, a secretária de Saúde, “mas ainda não conseguimos sensibilizá-los”.

De acordo com os diretores do HRDV, a UPA de Rio Bonito, uma unidade tipo III, idealizada para atender municípios de até 200 mil habitantes, contribui de maneira significativa com o volume de internações (do CTI) acima do teto de internações.
– Quando a UPA veio para Rio Bonito, ele chegou com modelo regional. Para justificar 200 mil habitantes, calculou-se um perímetro que contempla Silva Jardim, Tanguá, Rio Bonito, parte de Casimiro de Abreu e Cachoeira de Macacu. Isso contribui para que os pacientes cheguem aos montes ao CTI, que é a referência da UPA. O problema é que nós ultrapassamos o teto de internações e o prejuízo é constante – afirma Lupércio.

A Unidade Intermediária (UI), classificada como “Enfermaria A” é outro “buraco sem fundo” e, segundo números oferecidos pelos diretores do HRDV, “uma constante fonte de prejuízos”. O setor é composto por cinco leitos, que consome os mesmos medicamentos e recursos do CTI, mas não tem igual remuneração.
– No CTI nós recebemos por dia, na UI, com pacientes da mesma gravidade, nós recebemos por internação. Se o paciente ficar no setor uma semana ou quinze dias, o que recebemos do SUS é a mesma coisa. A ideia era desativar a UI quando o CTI entrasse em operação, mas por conta de uma série de compromissos, que ainda não foram cumpridos, ela foi mantida. No fim do mês, porém, é o hospital quem paga essa conta – destacam.

Assembleia

Com o pedido de licença do presidente Luis Gustavo Martins, assumiu a direção do HRDV o vice-presidente Luiz Fernando Romanelli Cardoso, que durante a entrevista estava acompanhado do Procurador da casa, o advogado Luiz Guilherme Cordeiro; e do 2º tesoureiro, Antonio Pinto de Oliveira Neto. Conforme publicação feita no jornal Folha da Terra (edição de 21/07), a diretoria convocou uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para o próximo dia 1º de agosto (quarta-feira), “quando será discutido o futuro do HRDV e será exposta a situação da unidade. A assembleia, que será realizada no Esporte Clube Fluminense, acontece a partir das 19h, é aberta a população e o cidadão que estiver preocupado com o hospital deve participar”, convocou Romanelli.

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