sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Outros vão morrer!

Por Flávio Azevedo - Reflexões

Depois de escapar de uma tentativa de homicídio, no último mês de março, quando levou um tiro na cabeça, um jovem morador da Serra do Sambê, conhecido como “Darinho”, foi assassinado por volta das 11h30min, da última quarta-feira (19). O crime aconteceu próximo a escola do bairro. No local, policiais militares contaram seis cápsulas de pistola 380.

O crime foi o assunto das redes sociais! As opniões são muitas. Bastante coisa tem sentido, outras nem tanto. Entre os muitos comentários postados no Facebook, chama a minha atenção aqueles que tentam avaliar a dor da família enlutada. Destaco a reflexão de uma jovem que lamenta a impotência dos pais, “que embora estejam preocupados com os filhos, muitas vezes não conseguem tirá-los do mundo das drogas”, comenta.

Eu concordo, mas sinceramente... Vejo poucos pais se esforçando para não deixar os filhos entrarem nesse terrível caminho! Eu costumo dizer que um dos problemas dos pais da atualidade é a falta de tempo. Alguns não sabem que os filhos cresceram. Entretanto, fica muito nítido que para vigiar os filhos do vizinho não existe falta de tempo. A realidade é que muitos pais só vão se lembrar do filho, quando um traficante já o adotou!

Tem ainda aqueles que querem culpar as autoridades. Contudo, embora essa minha tese seja classificada como inconveniente, as famílias (com raríssimas exceções) estão contribuindo significativamente para que histórias como a de “Darinho” continuem acontecendo! Concordo que as políticas públicas são pífias, os políticos são omissos ou corruptos (os bons são minoria), a polícia tem falhas, mas a inoperância política não pode nos fazer culpar apenas o poder público, porque papai e mamãe também tem culpa no cartório!

Nas redes sociais, outra internauta comentou que “hoje em dia os pais são bem mais esclarecidos que os de antigamente... A sua maneira, eles orientam e tentam proteger seus filhos, mas muitos fazem de forma errada. Um exemplo disso está na permissividade e na ausência de limites. Filhos acostumados a terem de tudo crescerão acreditando que podem tudo, inclusive, banalizar os seus semelhantes e usar drogas”.

Ela escreveu mais: “Os pais, quando têm seus filhos pequenos, conseguem manter os portões fechados. Assim, conseguem protegê-los das vicissitudes do mundo. Um dia eles crescem e os pais não terão mais condições de mantê-los fechados em casa... E os portões são abertos para eles”. Novamente eu concordo com a nossa internauta, mas a impressão que eu tenho é que esse portão esta sendo aberto cada vez mais cedo (o leitor pode até discordar de mim!).

Eu costumo dizer que não é o jovem que está saindo para a rua! Quem está saindo para a rua sem hora para voltar e sem dizer para onde estão indo são as crianças. Os vícios raramente começam aos 20 anos. Os pais, exatamente por não conhecer os filhos, muitas vezes descobrem o problema do filho quando ele já tem 20 anos... Mas o garoto começou usar drogas com 11 ou 12 anos. Fica a pergunta: onde esses pais estavam nesse intervalo?

Amigo leitor, nem sempre esses pais estavam fazendo coisa errada! A maioria estava trabalhando, buscava uma vida melhor para DAR aos filhos – alguns estavam até na igreja –, mas esqueceram, por conta da luta diária, de priorizar o SER. Muitos conseguem TER dinheiro, TER imóveis, TER carros, porém, não TEM mais o filho, que não foi orientado a valorizar o SER. O garoto não TEVE os pais, e, agora, ele É um drogado.

Esse é um cenário que não será mudado com “Caminhada Pela Vida”, com “Mobilização da Sociedade Civil Organizada” ou com “Iniciativa Política”. Essa página só será virada se fizermos a nossa parte. Se abandonarmos o hábito de olhar a vida alheia para olhar o nosso próprio umbigo. Penso que esses seriam os primeiros passos para mudarmos histórias como a de “Darinho”, que infelizmente, não foi o primeiro e, certamente, não será o último.

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