quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Moeda Social Capivari já circula em Silva Jardim

Por Flávio Azevedo

Um misto de esperança e desconfiança. Esta é a postura de comerciários e comerciantes silvajardinenses com o lançamento da moeda social “Capivari” (foto), a primeira do Estado do Rio de Janeiro, que tem como principal objetivo fortalecer a economia e o comércio de Silva Jardim. A moeda começou a circular na última terça-feira (16), quando foi inaugurado, na Rua Borges de Alfradique, nº 60, no Centro, o Banco Comunitário Capivari (BCC), que será responsável pelos negócios realizados com a nova moeda. O BCC também funcionará como uma casa de câmbio, onde a moeda vigente no país, o Real, poderá ser trocado pela moeda local.

Na Feira Solidária, entre os estandes que foram montados próximo ao BCC, a produtora rural Zeni Rodrigues, 53 anos, moradora de Mato Alto, recebeu a nova moeda na venda de um dos seus produtos. Segundo ela, “a iniciativa do prefeito é louvável, a cidade realmente precisa melhorar, mas para opinar, eu prefiro esperar para ver se a população silvajardinense vai aderir ao projeto. Tem tudo para dar certo, mas vamos esperar para ver, porque pior do que está (a economia) não pode ficar”, disparou Zeni.

No Centro da cidade, em uma loja de informática, o gerente Jean Carlos Bastos, de 20 anos, comentou que a iniciativa é muito boa, mas também quer esperar para dar qualquer tipo de opinião. “Antes de fazer qualquer tipo de análise, nós temos que esperar os resultados. A nossa expectativa é positiva, porque como se trata de uma moeda social, que só vai circular na cidade, o comércio local será beneficiado”, disse.

Numa butique, próxima a loja de informática, a comerciária Josiane Barreto, 29 anos, frisou que iniciativas como essa é o que se espera do poder público, “mas o povo precisa colaborar, principalmente, porque a moeda foi lançada próximo ao Natal, data de economia aquecida, mas uma época que as pessoas saem de Silva Jardim para comprar em outros centros”.

O balconista Marcelo Igor Vasconcelos, 28 anos, funcionário de uma loja de tintas, acredita que com a implantação do Capivari, o dinheiro vai circular no município, que pode alcançar o desenvolvimento planejado pelo prefeito.
– Foi válido, principalmente, porque estamos no fim do ano, época em que as pessoas estão pintando as suas casas e mexendo com obras. Para o nosso ramo de negócio, a expectativa é a melhor possível, mas o povo tem que colaborar – pontuou.

Primeiro cliente

O primeiro cliente do BCC foi o prestador de serviços Geneci Nascimento Conceição (no microfone), morador do bairro Fazenda Brasil. Proprietário de uma oficina de consertos de bicicletas, ele fez um empréstimo, no valor de 800 Capivaris, para a aquisição de peças de reposição para o seu negócio. No primeiro dia de circulação, o BCC trocou 6.413,50 Capivaris por Reais. Inicialmente, o BCC começaria a funcionar com 6 mil Capivaris, mas temendo uma procura maior que a oferta, esse aporte financeiro foi ampliado para 50 mil. “Tomamos essa iniciativa tendo em vista a grande expectativa de procura, que pode aumentar ainda mais”, disse o prefeito Marcello Zelão (PT) em entrevista coletiva a imprensa, antes da inauguração.

Um banco para os pobres

Durante a sua fala na inauguração do BCC, o prefeito Marcello Zelão (PT), deixou claro que o banco “não é da Prefeitura, da Câmara Municipal, mas do povo”. O banco é gerido pela Associação Comercial e Industrial de Silva Jardim, que conta com o suporte da Prefeitura local. O chefe do Executivo agradeceu aos comerciantes pela aceitação da moeda e aos vereadores que aprovaram o projeto de Lei Economia Solidária por unanimidade.

– Essa lei nos permitiu criar mecanismos importantes na administração do município. As pessoas menos favorecidas que recebem cesta básica do setor de Bem-Estar Social (cerca de mil), a partir de agora, irão receber o benefício em Capivari. Isto vai resgatar a cidadania e a dignidade dessas pessoas, pois elas poderão sacar o dinheiro e comprar aquilo que quiserem no local que acharem melhor, fazendo com que os valores também circulem mais na nossa economia – disse Zelão, que pensa em conceder vale-alimentação para os servidores públicos em Capivaris.

O prefeito comentou que o BCC é um banco para pobre e não para quem tem dinheiro e destacou a importância do micro-crédito. “O Capivari vai mudar a realidade econômica da cidade para as pessoas que tem menor poder aquisitivo. A moeda é apenas um instrumento, já o micro-crédito eu destaco como fundamental para o crescimento da economia do município”.

O Presidente da Associação Comercial, Aulus Macedo, lembrou que no início do lançamento da ideia houve alguma rejeição, “mas, hoje, já há 100% de aceitação e adesão. “Nós esperamos um aumento de cerca de 30% nas vendas na cidade, pois a ideia é muito boa; porém, ela só vai vingar mesmo se toda a população aceitá-la”, lembrou Aulus, acrescentando que a moeda chegou em boa hora, próximo às festas de fim de ano.

Já Joaquim Mello (foto), Presidente do Instituto Palmas, entidade que prestou consultoria técnica para a implantação da moeda em Silva Jardim, destacou que o Capivari já nasce forte, pois tem o total apoio da Administração Municipal, sendo a primeira incentivada pelo Governo local: “a moeda de Silva Jardim certamente servirá de modelo para outras cidades na Região”, garantiu, lembrando que com a de Silva Jardim já são 52 moedas em todo o Brasil (27 só no Ceará), e que “só não há mais porque dependem de incentivadores como Zelão”.

A secretária de Turismo, Indústria e Comércio (Semtic), Vera Brito, disse que hoje é o “Dia C”, “C” de Capivari, “C” de Comunidade que foi construído ao longo de um ano com a sensibilização de toda a sociedade. “Hoje isto se transforma em realidade e nos remete a uma reflexão de que devemos persistir na nossa caminhada”, destacou, enaltecendo o desprendimento do prefeito Zelão e a parceria com a Associação Comercial.

Festividade à tarde

Na parte da tarde ocorreu o work-shop “Economia Solidária”, apresentado por Joaquim Mello, que explicou como funciona o Capivari e como a experiência deu certo, principalmente lá no conjunto Palmeira, em Fortaleza/CE. “A economia solidária é para que todos ganhem; pois quando apenas uns ganham outros acabam perdendo, e não é possível criar uma sociedade em que todos ganhem ao mesmo tempo”. Ele também tirou dúvidas em geral apresentadas pelos participantes e falou das vantagens da iniciativa.

Após a solenidade, foram entregues kits com cartilhas e adesivos de identificação de estabelecimentos que aceitam o “Capivari” às dezenas de comerciantes que aderiram à ideia. O lançamento foi animado por um show de voz e violão da cantora Sheila Sá, acompanhada do violonista Ricardinho Leite. (Colaborou Evaldo Nascimento).

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